Entre as peças
de antiquário que mais gostamos, as cadeiras, sem dúvida, ocupam lugar
de destaque. Conheça a história das cadeiras campesinas
Ambiente de Marina Linhares na CASACOR Rio 2015 (Marina Linhares/Arnaldo Danemberg Antiquário)
Entre as peças de antiquário que mais gostamos de abordar nesta coluna, as
cadeiras,
sem dúvida, ocupam lugar de destaque. Talvez o mais democrático dos
móveis, lado a lado com a mesa, elas são importante fonte de referência
no estudo do mobiliário. Estilos, interpretações, manufaturas e origens,
tudo passou pela história das cadeiras.
Ambiente do Studio Ro+Ca na CASACOR Rio 2015 (Studio Ro+Ca/Arnaldo Danemberg Antiquário)
Hoje, vamos focar nos modelos campesinos franceses do século 19, seus
estilos e manufaturas. Quando classificamos um móvel, um dos fatores de
avaliação é a sua forma de execução, sua manufatura. Sendo assim, as
cadeiras se dividem em:
Palacianas – Imponentes, próprias para os palácios e
seus moradores, seguem os desejos da nobreza. Configuram demonstração
de poder, até mesmo de exagero. E seu acabamento tem no luxo a base mais
importante;
Citadinas – as da cidade, como o nome já revela,
trazem o luxo em menor dose luxo. De caráter formal, acompanham o estilo
vigente de forma mais democrática, burguesa;
Campesinas – as peças usadas no campo seguem as duas vertentes a seguir:
Rústicas, de fabrico local, do campo mais afastado, sem nenhum traço
estilístico e semi-rústicas. São ainda do interior mas possuem, em sua
estrutura ou decoração, um traço estilístico, detalhes que nos revelam
um estilo. São a interpretação rural do estilo que acontece no palácio
ou na cidade. Estas, pela ingenuidade de sua manufatura, leveza e
sutileza, são as minhas preferidas. Nelas, reconheço um traço seja do
barroco, do rococó ou do neoclássico. São “pistas” deixadas. Decifrá-las
é um exercício de paciência e de prazer para descobrir o que cada
exemplar tem a nos mostrar, a nos dizer. A análise de uma cadeira
campesina semi-rústica requer atenção e conhecimento. Estas cadeiras
obedecem sutilmente o estilo em voga e suas madeiras e acabamentos são
diferentes.
Nas
cadeiras campesinas francesas, as madeiras
encontradas são, em sua maioria, de árvores frutíferas, sendo a nogueira
e a cerejeira, inclusive a cerejeira selvagem, as mais comuns.
Carvalho, pinho e faia também aparecem em alguns itens Há casos em que
numa única peça foram utilizadas várias madeiras, uma prática muito
comum, aliás. A textura acetinada dessas madeiras encanta a todos. Seu
tom claro em mel, mais ainda.
Já a manufatura desses móveis possui leveza de forma, boa qualidade
na construção, solidez. Os assentos são de palha (rústica ou
convencional) ou mesmo de madeira. Nos espaldares, os vazados são
abundantes e percebemos a presença de pequenos e delicados entalhes – ou
mesmo de pequenas marchetarias e filetes. Pernas e pés acompanham o
espirito de cada estilo.
As cadeiras campesinas sempre surpreendem. Para ilustrar, separei o século 19 francês em segmentos, como a seguir:
(Divulgação/Arnaldo Danemberg Antiquário)
O neoclassicismo do período Império, aqui interpretado em suas linhas
retas e suaves, e pernas delicadas em sinuoso movimento. Assentos em
madeira e palha (rústica ou convencional). Estamos aí na primeira metade
do século 19.
(Divulgação/Arnaldo Danemberg Antiquário)
A cadeira com o espaldar conhecido como à “ Catedral”. Na sua
estrutura neoclássica, seu espaldar nos remete às catedrais góticas. O
Neogótico começa aparecer. Um dos meus móveis favoritos…
(Divulgação/Arnaldo Danemberg Antiquário)
Ainda no espírito neoclássico, mas um pouco mais adiante, a
interpretação rural do estilo no período Diretório traz espaldares com
as conhecidas travessas superiores em prancha única horizontal, assim
como pernas em sabre (esta é uma das grandes dicas para reconhecermos o
estilo). Tudo na primeira metade do século 19.
(Divulgação/Arnaldo Danemberg Antiquário)
Na sequência chegamos a meados do século 19, no período Luiz Felipe,
quando as curvas do estilo Neorococó passam a formar a estrutura dos
móveis dos palácios, das cidades e do campo. Espaldares em forma de
balão, vazados sinuosos e pernas em curvas e contra-curvas dão a tônica.
Algumas pernas, mais tardiamente, serão torneadas. O estilo se impõe na
França, na Inglaterra (no Middle Victorian period) e em outros países,
inclusive em Portugal e no Brasil. Alguns assentos apresentam tecido,
além da palha já mencionada.
(Divulgação/Arnaldo Danemberg Antiquário)
Finalmente, na segunda metade ao final do século 19, o ecletismo do
período Napoleão III se torna a tendência da vez, quando vários estilos
anteriores são misturados em uma só peça. Linhas retas, adornos, pernas
torneadas e palha nos assentos campesinos. Tudo isso neste nosso pequeno
passeio pelas cadeiras campesinas francesas do século 19. Recorrendo à
iconografia, passear pelos impressionistas é sempre uma boa viagem em
torno dos interiores campesinos franceses. Recomendo.
The Library – Belmond Copacabana Palace (The Library – Belmond Copacabana Palace/Arnaldo Danemberg Antiquário)
E, no Brasil, duas situações em que a referência aparece dando
importância a um ambiente. A primeira, numa mostra de decoração, como
bem fez a arquiteta Marina Linhares, utilizando a cadeira ao lado de uma
cama como mesa de cabeceira (Studio Ro + Ca). Na segunda, em uma cena
de sutil imponência, ao redor da mesa de banquetes da Library do
Copacabana Palace Hotel. As cadeiras campesinas conferindo história e
elegância aos nossos ambientes.
Fonte: https://casaclaudia.abril.com.br/blog/passado-presente/a-leveza-e-a-elegancia-francesas/